1.
YO
Planície,
reino
de águas virgens,
à
beira do Chade,
às
margens do rio
que
corre.
Caminho
para a morte
ou
para a vida.
Terras
até o mar,
sem
fim.
2.
BOSSO
Ainda
o deserto.
Nenhum
destino traçado,
nenhuma
voz no caminho.
Solidão
do sol
e
vastidão da noite.
Erguida
sobre mim mesma,
avanço
sobre o nada.
3.
AGADEM
Vê,
eu
e minha fala surda.
Oro
para que meus pés
caminhem.
Oro
para morrer e não ver
amanhecer outro
dia.
Para
que serve um corpo
que
somente caminha?
4.
DIBBELA
Oásis
de mil folhas,
camelos
tocam a seca nervura,
os olhos
abertos sobre a areia.
Cavernas
vertendo águas:
pequenos
lagos
de
minha grande sede.
5.
BILMA
Não
há fogo.
A
noite estrelada.
Passo
calcário e frio,
não ouço mais
minha voz,
minha voz,
eu
sem mim,
em
abandono.
6.
ANAÍ
Cubra-me
com teu sono e velas.
Caravanas
sem homens,
chicotes
a lanhar o lombo.
Sangue,
meu sangue.
Venço
a morte,
vivendo.
7.
YEGEBA
Esqueço-me
de onde vim.
Minha
terra de águas e folhas.
Ressaca
em minha memória.
Tenho
as mãos secas e nuas.
Meu
corpo
antigo.
8.
YAT
Dunas
avançam à frente
de
um tempo escasso.
Avanço,
imóvel,
sob
as sombras.
9.
MAFARAS
Algozes,
tolos sem alma.
Para
onde vou
que
não sei?
Aguardo
a vida
se desdobrar
ou se recolher à vereda
como
cobra.
10.
TOUMMO
Esse
mar de que falam
ao
fim da terra,
água
verde de pedras raras,
contém
o azul dos céus
e
a cor das horas.
Carregai-me.
11.
TEJERRI
Partidas
são hiatos de vida,
jejuns
de minha alma.
Foice
e dor
aguda.
12.
AL
QATRUN
Caminhamos
sem
o deserto.
A
trilha se esgota
antes que
eu a atinja.
Não
sei mais
o
que procurar
e
o que encontrei
sei menos
ainda.
13.
MESTUTA
A
alma se esconde
para
me ver.
Sonho
ruidoso
de
morte.
Meu
corpo e sombra
:
aragem dissipando
a névoa.
14.
MARZUQ
Meu
coração
é
o deserto.
Sopram
os ventos
em
todas as direções,
entre
ruínas mal-assombradas
e
caravanas pelo Saara.
Cem
dias de caminho
: mar de areia
e
agonia.
15.
AGHAR
Que
outras vastidões haverá
sem
água
e
oásis distantes?
Poços
guardados,
relíquia
e
festim.
16.
TUAREK
Escorpiões
cortam
a areia
enchendo-a
de nódoas
e
feridas.
Todos caminham
para a morte.
Por
nós,
passam
passam
como
passamos
por
eles.
17.
TAKARTIBAH
Comem tâmaras
e
deixam as sementes
para
a semeadura.
Lagos
surgem entre
dunas
de miragem.
Desço
meus pés
meus pés
sobre
a bruma líquida
e
o delírio.
18.
WEINA
Rastros
de girafas
e
elefantes desaparecidos
rondam
à nossa volta.
Neste
oásis abandonado,
almas
de homens
e
animais passados.
Um
leito de lagos secos
e
sombras.
Curva das mãos
sob
a agudeza
do
sol.
19.
HAMADA
AL HAMRA
Sob
a névoa úmida,
sem
mais estrelas,
avançávamos
sós
sós
para
noites
cada
vez mais frias.
Pássaros
singram sobre as areias
por
onde passamos
invisíveis.
20.
MIZDAH
Nasci
com as coisas vivas
para
estar entre elas.
O
vento corta as areias
abrindo
sulcos
à sua passagem.
à sua passagem.
Nada
vive entre as pedras.
Nada
vive para testemunhar
que estamos
aqui.
aqui.
21.
GHARIAN
Borboletas
e
libélulas migram
acima
das cabeças.
Tivesse
asas
para me elevar
nessas
planuras
e
habitar um oásis
em
segredo.
Ó
dor feita
de
carne
e
destino!
22.
TRÍPOLI
Saímos
do deserto
e
largamos a alma
para trás.
para trás.
Abandonamos
o
sol
e a noite escura.
e a noite escura.
Deixamos
a areia
e
vamos ao encontro
do
mar
e
dos peixes.
24/12/2002 –
3h08 – 30/12/2002 – 14h20